domingo, 2 de agosto de 2009
3 PASSOS PARA A MORTE - Dicas essenciais de um suicida frustrado
Hoje vou abordar a questão do suicídio. Eu já tentei algumas vezes e, como você pode constatar, não atingi os objetivos propostos. Por isso mesmo, decidi tornar minha frustração em algo útil para a sociedade, reunindo os itens fundamentais para que você tenha uma boa morte.
1. MORRA NO LUGAR DOS SEUS SONHOS
Isso mesmo, não poupe dinheiro, nem cartões de crédito ou cheque especial. Você não vai pagar mesmo. Problema da sua família, que provavelmente foi responsável por uma série de suas neuroses.
Muita gente gosta de morrer no Rio de Janeiro, em Florianópolis ou nas praias nordestinas. Nas minhas tentativas, optei por Paris, mas, infelizmente, ao pular da Torre Eiffel, eu fiquei com o pé preso na estrutura de metal, o que gerou uma fratura no tornozelo e a patética cena do meu corpo dependurado. As autoridades locais me resgataram e me enviaram de volta para Porto Alegre. Estou no SPC até hoje.
2. TENHA UM BOM MOTIVO PARA MORRER
Não se mate por qualquer bobagem. Isso é um evento e merece um motivo especialmente selecionado, como um vinho de boa safra. A questão dramática é importante para você impactar seus familiares, amigos e inimigos com um profundo sentimento de culpa. Seja impiedoso e deixe uma carta xingando e apontando o dedo para todo mundo.
Em uma das vezes em que planejei o suicídio, deixei claro que o motivo foi o assédio moral da minha ex-namorada. Um dia, quando fazíamos amor de forma alucinada, uma coruja quebrou o vidro da janela e invadiu o quarto. O susto me deixou brocha e a mulher sem fôlego de tanto rir. Depois disso, todas as vezes que o sexo ia rolar, ela não conseguia conter-se e gargalhava novamente, lembrando da tragicômica situação. Ao tentar ir de encontro à morte, escrevi uma carta falando sobre isso, culpando a desgraçada.
Não morri. Acordei num hospital e lembrei que a cadeira, usada como apoio para o enforcamento, quebrou-se antes da consumação do ato. Só consegui um hematoma na testa e um puta torcicolo. A carta foi encontrada e hoje até minha mãe ri da minha cara.
3. ESCOLHA A MELHOR FORMA DE MORRER
Alguns são masoquistas e gostam de morrer com dor, outros têm medo de morrer sozinho e provocam acidentes coletivos. Qual é o tipo de morte ideal para você? Lenta ou rápida? Violenta ou carinhosa? A escolha é sua e deve estar de acordo com as vontades do seu pobre coração e, também, do tamanho da comoção que você quer provocar nas pessoas.
Eu, por exemplo, cansado de tentar mortes impactantes, decidi planejar um suicídio mais poético e sem cartas comprometedoras. Tranquei-me em casa; coloquei um vinil velho do “Ultraje a Rigor” para tocar sem parar; e separei um livro de geografia da sexta série (por falta de opção) para compor um cenário de morte intelectualizada.
Abri uma garrafa de vodka barata e bebi mais da metade, até ficar bêbado e ter a aparência de um escritor niilista. O toque final, uma arma preparada com esmero e paixão: um delicioso doce de cajá, sobre o qual acrescentei várias gotas de um poderoso veneno (o sabor estava ótimo). Logo depois, deite-me no sofá e dormi, achando que a morte chegara.
Acordei todo cagado. De tão bêbado, troquei o veneno por um purgante. Desde então, larguei de mão o suicídio e passei a ensinar essas valiosas lições.
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